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Amazônia sem garimpo, povos indígenas contam os dramas e o perigo da contaminação dos rios e das águas pelo mercúrio da mineração. A produção também traz uma novidade para a Plataforma de Filmes Videosaúde Fiocruz: a animação com narração em duas línguas indígenas – Yanomami e Munduruku, além do português. As narrações foram feitas pelas próprias populações indígenas e o roteiro desenvolvido coletivamente entre produtores audiovisuais, pesquisadores e os povos retratados.

Videosaúde (VSD): Como surgiu a ideia para a criação da animação?

“Amazônia Sem Garimpo” compõe uma das estratégias para devolutiva de resultados aos povos indígenas envolvidos com o projeto de pesquisa “Impactos do Mercúrio em Áreas Protegidas e Povos da Floresta na Amazônia: Uma Abordagem Integrada Saúde e Ambiente”, desenvolvido pelo grupo de pesquisa “Ambiente, Diversidade e Saúde” da Fiocruz, sob coordenação dos pesquisadores Paulo Basta (ENSP) e Ana Claudia Vasconcellos (EPSJV).

Este projeto nasceu para atender um pedido de apoio recebido por intermédio de uma carta enviada pela Associação Indígena Pariri, que representa o povo Munduruku do médio Rio Tapajós, no estado do Pará. Na carta, o povo Munduruku solicitava ajuda para entender os impactos e as consequências da presença de garimpos ilegais e do uso indiscriminado do mercúrio à saúde da população e ao ecossistema amazônico, em seus territórios ancestrais.

VSD – E como foi a coleta de dados que subsidiou o desenvolvimento da produção?

Após a realização da pesquisa com coleta de dados primários nas aldeias (entre outubro e novembro de 2019) e a entrega do relatório técnico às lideranças (na sede do Ministério Público do estado do Pará, em Santarém, em outubro de 2020) e a apresentação de laudos individuais aos participantes (em setembro de 2022), nosso grupo elaborou este documentário de animação, com protagonistas indígenas compartilhando seus olhares e suas experiências de vida e convívio forçado com os invasores, em seus territórios.

VSD – Quais os impactos da exposição ao mercúrio nesses territórios?

Ao final do trabalho de campo, visitamos 35 domicílios nas aldeias estudadas e avaliamos um total de 200 participantes, adultos e crianças. Os níveis de mercúrio variaram de 1,4 a 23,9 μg/g, com diferenças significativas entre as aldeias investigadas. Em média, cerca de 6 a cada 10 participantes (57,9%) apresentaram níveis de exposição ao Hg acima de 6,0 μg/g, o limite de segurança estabelecido. Na aldeia Sawré Muybu, mais próxima do município de Itaituba e mais distante das atividades ilegais de mineração, 4 a cada 10 participantes apresentaram níveis de exposição ao Hg acima dos limites seguranças empregados neste estudo. Na aldeia Poxo Muybu, mais distante do município de Itaituba e localizada a uma distância intermediária das atividades ilegais de mineração, 6 a cada 10 participantes apresentaram níveis de exposição ao Hg acima dos limites de 6,0 μg/g. Já na aldeia Sawré Aboy, localizada às margens do rio Jamanxin, bem próxima das atividades ilegais de mineração, 9 a cada 10 participantes apresentaram níveis de exposição ao Hg acima dos limites de segurança empregados nesta pesquisa. Pudemos observar um gradiente de contaminação. Ou seja, à medida que nossa equipe avançava para as regiões mais próximas do garimpo ilegal, maiores foram os índices humanos de contaminação. Ademais, durante o trabalho foram capturados 88 espécimes de pescado, representantes de 17 espécies distintas, incluindo peixes piscívoros e não piscívoros. Em nossa amostra, os peixes piscívoros, ou seja, aqueles peixes que se alimentam de outros peixes, em particular a piranha preta foi, apresentaram os maiores níveis de contaminação.

VSD – o roteiro foi produzido coletivamente. Como foi a experiência e quais os objetivos e públicos pensados a serem alcançados? 

O roteiro foi elaborado com a finalidade de comunicar aos povos atingidos não somente os principais achados da pesquisa, mas também informações úteis para prevenção da contaminação por mercúrio e orientações dietéticas para o consumo seguro de pescados. Além da equipe de pesquisadores e de profissionais da área audiovisual, participaram da construção do roteiro do filme lideranças indígenas e professores da etnia Munduruku.

A fim de atingir um público mais amplo, incluindo indígenas que vivem em outras áreas afetadas pelo garimpo ilegal, decidimos produzir o filme em 3 línguas, com versões em português, Munduruku e Yanomami. Após concluído o roteiro, as narrações foram feitas por Alessandra Korap Munduruku, Jairo Saw Munduruku e Dário Vitório Kopenawa Yanomami, em português, Munduruku e Yanomami, respectivamente.

VSD – a trilha sonora também foi concebida durante a produção da animação?

A trilha sonora é constituída por canções originais do coletivo Tarde Ilustrada e do compositor Leandro Floresta, e foi concebida durante o processo de produção da película.

Equipe do projeto “Amazônia Sem Garimpo | Animação”:

Direção, Produção e Roteiro

Tiago Carvalho

Direção, Produção e Montagem

Julia Bernstein

Ilustrações

Guilherme Petreca

Animação

Diego Santos

Desenho Sonoro

Damião Lopes

Trilha Sonora

Tarde Ilustrada

Música de Créditos: Rio da Vida

Leandro Floresta

Narração em Português

Alessandra Korap Munduruku

Narração e Tradução em Munduruku

Jairo Saw Munduruku

Narração e Tradução em Yanomami

Dário Vitório Kopenawa Yanomami

Oficina de Roteiro com o Povo Munduruku

Nuno Godolphin

Coordenação Geral

Ana Claudia Santiago de Vasconcellos (EPSJV/Fiocruz)

Coordenação Adjunta

Paulo Cesar Basta (ENSP/Fiocruz)

A animação é parte integrante do projeto de pesquisa “Impactos do Mercúrio em Áreas Protegidas e Povos da Floresta na Amazônia: Uma Abordagem Integrada Saúde e Ambiente”

Produção Executiva

Ana Claudia Santiago de Vasconcellos (EPSJV/Fiocruz)

Paulo Cesar Basta (ENSP/Fiocruz)

Financiamento

Programa INOVA | Fiocruz

VPAAPS | Fiocruz via projeto “Aprimoramento do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, através do desenvolvimento de estudos técnicos, pesquisas científicas e ações estratégicas, essenciais para a diversificação, ampliação e qualidade dos serviços de saúde prestados aos indígenas”.

Realização

Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV)

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP)

Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)